Página 2

Lisboa poesia You are welcome to Elsinore Entre nós e as palavras há metal fundente entre nós e as palavras há hélices que andam e podem dar-nos a morte violar-nos tirar do mais fundo de nós o mais útil segredo entre nós e as palavras há perfis ardentes espaços cheios de gente de costas altas flores venenosas portas por abrir e escadas e ponteiros e crianças sentadas à espera do seu tempo e do seu precipício Ao longo da muralha que habitamos há palavras de vida há palavras de morte há palavras imensas, que esperam por nós e outras, frágeis, que deixaram de esperar há palavras acesas como barcos e há palavras homens, palavras que guardam o seu segredo e a sua posição Entre nós e as palavras, surdamente, as mãos e as paredes de Elsinore E há palavras nocturnas palavras gemidos palavras que nos sobem ilegíveis à boca palavras diamantes palavras nunca escritas palavras impossíveis de escrever por não termos connosco cordas de violinos nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar e os braços dos amantes escrevem muito alto muito além do azul onde oxidados morrem palavras maternais só sombra só soluço só espasmos só amor só solidão desfeita Entre nós e as palavras, os emparedados e entre nós e as palavras, o nosso querer falar Mário Cesariny, Poemas de Mário Cesariny , Lisboa, Assírio & Alvim, 2007 POESIA Entre nós e as palavras, o nosso querer falar – A poesia de Mário Cesariny por José Anjos e os convidados Paula Cortes e Carlos Barretto (contrabaixo) 2 JUNHO — 18H30 / SALA MBITO ULTURAL LISBOA — PISO 6 Sessão do Ciclo Poem(A)r inteiramente dedicada à poesia de Mário Cesariny, poeta maior do movimento surrealista português, no ano em que se celebra o centenário do seu nascimento. A sessão tem como convidados Paula Cortes (Lisbon Poetry Orchestra, mao-mao) e Carlos Barretto no contrabaixo, que se juntam a José Anjos para interpretar poemas de um dos mais importantes e livres poetas portugueses. Em mais uma temporada do Ciclo Poem(A)r regressamos até si através da poesia de vários autores, na voz de José Anjos e dos seus convidados. Durante os últimos dois anos muita coisa mudou, excepto o que nos move: a urgência da poesia e da partilha. É essa urgência que volta a abrir as portas às sessões do Ciclo Poem(A)r promovidas pelo Âmbito Cultural do El Corte Inglés, com periodicidade bimestral e programação de José Anjos, as quais não seriam possíveis sem um público de leitores atentos e cúmplices desta tradição. 2 MAGAZINE CULTURAL Pintor e poeta, Mário Cesariny de Vasconcelos estudou na Academia de Amadores de Música e ingressou, no início dos anos quarenta, na Escola de Artes Decorativas António Arroio. Depois de uma aproximação ao neo-realismo, afasta-se do movimento. Em 1947, escreve o poema Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (só publicado em 1953) e realiza as suas primeiras experiências plásticas. Embarca, então, na aventura surrealista, que se consumará nos anos seguintes. Viajando para Paris, conhece André Breton e liga-se ao denominado Grupo Surrealista de Lisboa. Experiência intensa, o surrealismo marca em Cesariny o ponto de partida de um percurso artístico profundamente vivido ao longo da segunda metade do século XX, tanto na escrita como nas artes plásticas. José Anjos nasceu em Lisboa (1978) e é formado em Direito, poeta e músico. Tem quatro livros de poesia publicados e participa em vários projectos como baterista (não simão), guitarrista (Poetry Ensemble e mao-mao) e diseur (Lisbon Poetry Orchestra, No Precipício era o Verbo, Navio dos Loucos, O Gajo, Janela). Vive com um gato.

Página 3

cursos Lisboa HISTÓRIA Clássicos, antes que seja tarde por Francisco José Viegas 26 JUNHO A 24 JULHO — 18H30 / SALA MBITO ULTURAL LISBOA — PISO 6 Os clássicos são livros que não terminam. Continuamos a lê-los depois de dobrar a derradeira página. Atravessam o tempo e regressam periodicamente com nova vida. Os seus leitores são também uma comunidade de clássicos: vestem a pele das personagens, reconhecem as grandes histórias e os pequenos pormenores, interpretam os seus episódios e construíram uma mitologia acessível a todos – através dos livros. Num momento em que os grandes textos são discutidos e desvalorizados, questionados e derrubados – e também silenciados – regressamos a alguns livros que fizeram a nossa vida de leitores deste tempo para ver como neles estão representados séculos de memória e ventania; e também os fantasmas, preconceitos, perturbação e distrações de cada época. Nestas cinco sessões falaremos de livros que tanto ajudaram a manter uma tradição literária como a puseram em causa e a questionaram. 1.ª SESSÃO — 26 DE JUNHO Gustave Flaubert, Madame Bovary Eça de Queirós, Os Maias 2.ª SESSÃO — 3 DE JULHO Jane Austen, Orgulho e Preconceito Camilo Castelo Branco, A Brasileira de Prazins 3.ª SESSÃO — 10 DE JULHO Vitorino Nemésio, Mau Tempo no Canal Gabriel García Márquez, Cem Anos de Solidão 4.ª SESSÃO — 17 DE JULHO Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas Raymond Chandler, A Dama do Lago 5.ª SESSÃO — 24 DE JULHO Jorge Luis Borges, Ficções Gonzalo Torrente Ballester, Saga/Fuga de JB Francisco José Viegas nasceu em 1962. É editor da Quetzal desde 2009, diretor da revista Ler , fundada em 1987, e dirigiu a Casa Fernando Pessoa. Foi diretor da revista Grande Reportagem e editor da Oceanos . Além da colaboração na imprensa, manteve vários programas de televisão sobre livros. É autor de romances como Um Céu Demasiado Azul , Lourenço Marques , Longe de Manaus (Grande Prémio de Romance e Novela APE), O Mar em Casablanca , A Luz de Pequim (Prémio Fernando Namora e Prémio Pen Club) ou Melancholia . A sua poesia (que inclui títulos como Se me Comovesse o Amor ou Juncos à Beira do Caminho ) está reunida em Deixar um Verso a Meio , 2019. N.º 17 / MAI–JUN–JUL 2023 3

    ...